quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Morrinhos, o lugar que eu tanto gosto







Lembro-me da primeira vez que eu fui a Morrinhos, acredito que eu tinha quinze ou dezesseis anos e, a partir daquele momento, um elo de carinho foi criado por este lugar.
Hoje é mais um domingo do mês de agosto e a convite de uma amiga fui passar a tarde em Morrinhos. Apesar dos poucos minutos de viagem, é possível admirar a vegetação, avistar um lindo pôr do sol.
Na entrada do povoado, avisto grupos de moradores sentados em suas calçadas compartilhando um pouco da vida, e outros, solitários, devem estar esperando o tempo passar ou observando o transitar dos veículos. Algumas crianças brincam de esconde-esconde próximo à escola e, de forma tão serena, ouço o canto de um pássaro.
Achei estranho seu Jó não está na janela de sua casa, ele que tudo observa e sempre tem bons “causos” para me contar. Se dependesse dele, eu passaria longas tardes ouvindo suas inúmeras histórias. Afinal, o que não falta em Morrinhos são pessoas que tem estórias para contar.
No trajeto até meu destino, minha amiga avista uma plaquinha na qual se dizia: “aqui tem muda de maracujá”, e lá vamos nós visitar o local. Um senhor simpático nos recepciona e começa a apresentar as mudinhas das plantas a nós. O quintal dele tinha cheiro bom de terra molhada e eu me sentei em um degrau e pus-me a observar as vendas, e da porta da cozinha avistava algumas joaninhas migrando de folhas e um rio era o pano de fundo. A natureza me acalmava e o pensamento fluía. A simplicidade do senhor e sua ternura com a terra, uma imagem bonita de se ver.
Após as compras, fomos embora e, ao atravessar a rua, o que eu avisto é uma mangueira e uma pitangueira. Fazia muitos anos que eu não via um pé de pitanga carregado e fiquei feliz. Ao andar por uma rua pequenina, avistei casinhas simples e as cercas as protegiam. As madeiras do cercado eram decoradas com flores. Minha felicidade cresceu ao ver a barragem, o nível de água aumentou e vê-la cheia novamente enche os olhos de alegria.
O anoitecer chegou, estava admirando um coqueiro gigante e, ao mesmo tempo, contemplando o céu estrelado, que hoje estava extremamente lindo. Com aquele cenário me recordei de quantos momentos felizes passei em Morrinhos. Já acompanhei o reisado de Seu Antenor, as procissões e novenários regidos pelas ladainhas de Santo Antônio e um grupo, mesmo que pequeno, de um povo detentor de uma fé duradoura. Veio-me a recordação de algumas figuras folclóricas deste lugar.
Trabalhei durante dois anos no vilarejo e, enquanto eu esperava o ônibus chegar, sentada em um banquinho em frente à Mercearia Leite, eu me colocava a observar o cotidiano das pessoas. Recordo-me de Dona Vita, uma senhora que deve ter em torno de 100 anos e sempre a via transitando pela comunidade; Biro biro, com seu saco que parecia ter o mundo todo dentro dele; tinha um  senhor de cabelos e barbas longos e que desbravava a Av. Ilhéus em sua bicicleta. Um grupo de rezadeiras ainda sobrevive com seus ramos e cantorias; meninos se penduravam sob carros pipas e era frequente me deparar com as lavadeiras e suas trouxas de roupas sob suas cabeças em direção ao rio. Quantos sustos eu levei ao ouvir o barulho do sino da igreja, é porque quando esse ritual acontecia era para anunciar a morte de alguém.
Esta terra não é apenas um distrito que possui uma rua, vai além disso. É um lugar de gente talentosa, de pessoas sofridas também. Andando por ali, é possível encontrar fazendas, mercearias, posto de saúde, casas modernas, casebres e casinhas rústicas e tão acolhedoras. Do assentamento, uma vista linda; na Igreja, a sacralidade junta-se com a simplicidade de um povo que ora em devoção a Santo Antônio; nos bares, o lazer de muitos; no campo de futebol, descontração para outros; bonitas paisagens é o que não falta para os amantes do ciclismo e para quem só quer ver o dia passar, os banquinhos da igreja os aguardam.
De Morrinhos, ganhei alguns amigos, alunos, professora, colegas, flores, frutos, contos, crônicas e muitas lembranças. Deste lugar, sem graça para alguns, eu encontro calmaria para os meus dias agitados. Das pessoas simples, uma bagagem de aprendizado. Um lugar que eu gosto e me permite usufruir os bons ventos, sentir o gosto de terra molhada e a alegria de encontrar pitangas em uma calçada.
Por ali vivem sonhadores, universitários, mestres, lenhador, agricultor, gente que vê um mundo a partir de suas pequenas janelas e, outros, que desacreditados estão e vivem por viver. O que é negatividade eu deixo o vento carregar, e prefiro ficar com o que é mais belo de Morrinhos e sei que, quando o fardo pesar, é para lá que eu vou porque o céu estrelado e o luar são mais bonitos do que os da cidade.  

Suerlange Ferraz

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