quarta-feira, 22 de março de 2017

Mobilize-se!


Estamos no meio de uma guerra ideológica, ética e social. O governo tornou-se nosso inimigo e corremos o risco de perder muitos direitos se não lutarmos e unirmos nossas vozes em um único grito que possa expressar nossa indignação, seremos classificados pela história de sujeitos passivos e omissos.

Para quê parar as aulas? Que absurdo, mal começa o ano letivo e os professores já estão de braços cruzados? E por acaso essa mobilização vai resolver algo? São as perguntas mais frequentes que temos ouvido. Os professores não pararam suas atividades porque são preguiçosos ou não pensam em seus alunos, estão mobilizados por entenderem que os projetos que poderão entrar em votação ferem gravemente o trabalhador não apenas da educação, mas de todos os setores. E para os desinformados, a mobilização não é apenas da educação, é de todos os trabalhadores. De um lado as propagandas governamentais dizem que a reforma será benéfica para a população, mas os trabalhadores não pensam o mesmo.

Quem critica o movimento já parou para pensar na gravidade de tais reformas? Os assalariados serão os mais penalizados. Quais serão as perspectivas de um futuro com qualidade para nós e principalmente para nossos jovens? São tantas inquietações que surgem diariamente e tememos com as respostas que virão.

E você que está reclamando dos seus colegas que estão na mobilização e preocupado em ter que trabalhar alguns dias a mais e diz que o protesto não mudará nada, pense que esta sua atitude em ficar em casa, com os braços cruzados e voz muda é que não modificará nada, como diria o velho e sempre atual Raul Seixas “ e eu que me sento no trono de meu apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”, é bem assim que muitos estão, indiferentes ao caos que nosso país passa.

É a hora de o país parar, das classes se unirem e deixar bem claro que o povo é maioria, que o povo unido pode mudar a direção de uma nação. Políticos corruptos não podem ter vez e devem ser lembrados diariamente que eles são nossos empregados. É hora de acordarmos literalmente, é o momento de voltarmos nossos olhares para os políticos que querem lesar a população. Quem ajuda a mexer nos direitos trabalhistas não pode nos representar.

Hoje, os nossos inimigos não são apenas os bandidos que furtam um celular ou uma bolsa, nosso inimigo é outro e tem nome: O Estado e sobrenome: Temer. De braços cruzados, não poderemos ficar. É o momento de reivindicarmos por nossos direitos. O silêncio não é a solução!

Mobilize-se!

Suerlange Ferraz – professora de História

segunda-feira, 13 de março de 2017

A Pequena Juju


Toca o sinal, as crianças saem correndo ao encontro de seus pais, e Juju, com lágrimas nos olhos, cabeça baixa e sentindo-se triste, caminhava a passos curtos até o portão da escola.
A menina, ao ver a mãe, corre em sua direção e a abraça. Era um abraço forte e a pequena não escondia a tristeza que sentia. Ao chegar em casa, a garotinha foi questionada pela mãe sobre a tristeza aparente e respondeu:
- Não aconteceu nada, mamãe! Só estou com a cabeça dolorida!
A menina almoçou e foi direto para o seu quarto. Deitou-se para descansar, mas as frases ditas por Lipe, seu colega, não saiam da sua cabecinha.Fazia dias que Lipe a tratava diferente por ela ser a única negra da turma, e hoje ele disse coisas que abalou Juju.

●Que nariz estranho!
●Seu cabelo é tão feio!
●Por que você é tão preta, Juju?
● Você é estranha!

A pequena Juju tem apenas sete aninhos e não sabe lidar com o preconceito. Afinal, uma boa parcela das crianças que sofrem com o racismo não conseguem se defender, porque diante das palavras doídas, a tristeza é mais visível.
Lipe é uma criança mimada. Adora apelidar os colegas, a mãe sempre o defende de seus erros e ele não foi ensinado a respeitar as diferenças. O menino ridiculariza os colegas que apresentam dificuldades na aprendizagem e mesmo que a professora lhe chame a atenção, ele e a mãe atropelam as regras e agem como se tudo fosse normal.
A mãe da garota é dona de um ateliê.Suzanita tem um estilo hippie e o cabelo volumoso é a sua marca registrada. Uma mãe presente e amorosa, que ao ver a tristeza da menina sabia que o problema era maior do que uma mera dor de cabeça.
Suzanita resolveu ir ao quarto da pequena, abriu a porta e viu Juju com seus pequenos olhos vermelhos, devido ao choro. A mãe pegou a filha e a colocou em seu colo, fez um cafuné e novamente quis saber o que houve. A menina resolveu desabafar e contou o que Lipe havia lhe dito.
Suzanita começou a tocar no cabelo de Juju, brincava com aqueles cachinhos e dizia que o cabelo da filha era lindo. Tocava no nariz e afirmava que existia um monte de narizes diferentes. Assim como o tamanho das pessoas não são iguais; nariz, orelha, boca, olhos também são diferentes.
- Nossa cor é linda, filha! Afirmava a mãe.
- Lipe não é igual a você, porque todos tem características peculiares, meu amor! Seu coleguinha não é superior a ninguém.
Juju dizia que não queria voltar à escola, e Suzanita disse que ela voltaria e não aceitaria mais as ofensas do colega.
- Juju, o racismo é uma forma estúpida de inferiorizar alguém. Mas devemos lutar contra essas atitudes. Você é pequena e mesmo assim terá que enfrentar as maldades de algumas pessoas.
- Venha cá! Olhe-se nesse espelho e veja a criatura linda que você é. Sim, somos diferentes em tamanho, sentimentos e beleza. O mundo é habitado por criaturas diferenciadas, minha pequena! Prometa para a mamãe que toda vez que seu colega lhe perturbar você dirá a ele que és única e que todos somos diferentes. Dirá também que tens orgulho da sua cor e desse cabelo lindo.
A menina jurou para a mãe que faria o que ela pediu, e quando Lipe tentou agredi-la com palavras preconceituosas, ela lembrava da conversa que teve com a mãe e repetia para o colega as frases que havia escutado. Ele começou a olhar em volta e percebeu que Juju estava certa. Parou de ofendê-la e a partir desse dia tornaram-se grandes amigos.

Suerlange Ferraz

terça-feira, 7 de março de 2017

Feliz dia, mulheres!





Hoje é o dia destinado a comemorar a luta de guerreiras que fizeram, fazem e farão história em qualquer parte deste planeta. Durante séculos a mulher era considerada um ser extremamente frágil, criada para formar família, ser submissa ao esposo e pilotar um fogão. O tempo e a coragem de mulheres fez com que esta situação pudesse mudar, porque o lugar de mulher é onde ela deseja estar. Lugar de mulher é lutando para que seu espaço seja respeitado e consequentemente por uma sociedade mais justa e que a democracia vigore.
Sexo Frágil? Lógico que não! Como alguém pode afirmar tamanho absurdo diante de mulheres que acordam as 4:00 ou 5:00 horas da manhã, arrumam a casa, preparam as refeições, cuidam de um ou vários filhos, saem para trabalhar e voltam na calada da noite?Existem tantas guerreiras que buscam uma vida melhor para os seus e para si.Não temem a guerra, lutam por vitórias para um coletivo. Expõem suas crenças, buscam políticas públicas voltadas para as mulheres em qualquer classe social, vão as ruas, protestam, marcham ao som de uma canção que as fazem lembrar o seu valor neste mundo.
Somos Marias, Margaridas, Rosas, Anas, Júlias, Violetas, Terezas, Rogacianas, Quitérias, Fridas, Malalas, Pagus... Somos MULHERES que buscamos o nosso espaço em uma sociedade que infelizmente continua vitimizando milhares de mulheres pobres, e na sua grande maioria negra no Brasil. E aquela ideia estúpida que algumas mentes doentias insistem em manter num discurso machista e preconceituoso, dizendo que as mulheres que expõem seus corpos ao utilizarem roupas curtas ou decotadas, merecem ou incentivam o estuprador a violentá-la. Que discurso vazio e patético, a exposição do corpo não faz com que a mulher se torne culpada por crimes, somos livres para expor o corpo da maneira que desejarmos e que os incomodados nos respeitem.
Em briga de marido e mulher não se deve meter a colher? Errado! Se a mulher sofre violência, não devemos meter a colher na briga, mas devemos meter o faqueiro completo. Quando uma mulher é espancada, a dor é de todas. Sofremos ao saber que muitas sofrem com companheiros que ameaçam, torturam e espancam. Algumas ainda não denunciam por medo, outras superaram o medo e a vergonha denunciando seus agressores.
Ganhamos espaços nas universidades, no mercado de trabalho, na política, nos tornamos protagonistas de belíssimas histórias de luta e superação. Ainda falta muito avanço no que se refere ao respeito e valorização da mulher. Queremos mais respeito e oportunidades, desejamos que os que virão depois de nós, encontrem um mundo mais digno e o gênero não seja parâmetro para distinguir salário. Queremos viver em um mundo em que as mulheres negras possam ser respeitadas ao escolher o visual que a agrada porque o cabelo negro é belo e a única coisa feia e ruim é o preconceito que continua enraizado em nossa sociedade.
Companheiras, que a nossa força e coragem não cessem! Que nossa voz ecoe por qualquer lugar da Terra, lutemos por respeito e igualdade. Que a nossa voz represente o silêncio que foi estabelecido a tantas mulheres que mesmo sofrendo, desejam que o futuro seja florido e feliz. Não podemos comemorar apenas hoje o nosso dia, a cada amanhecer devemos recordar das nossas conquistas e de tudo aquilo que ainda podemos conseguir.
Qual é o nosso lugar na sociedade? Em qualquer lugar em que possamos ser e fazer a diferença. Nada de submissão, somos seres transformadores, lutamos por condições favoráveis para uma vida mais digna. Plantamos flores por nossos caminhos percorridos, somos margaridas que colorem uma nação, Pagus indignadas com os tantos políticos corruptos e Malalas que lutam por uma educação qualitativa e que abranja a todos. Somos tantas, com identidades diversas, sonhamos, amamos, somos seres de fé, fantasiamos, protestamos e cremos em dias mais justos. A mulher denuncia, cobra, sacode a poeira e dar volta por cima.
Que não nos falte coragem, argumentos, sorrisos e beleza. Por onde formos que tenhamos a sensibilidade de uma criança e a determinação de uma mulher convicta do que quer. Revolucionem suas casas, escolas, grupos, ciclos, cidades ... Que nada e ninguém possam calar nossa voz.
Quem sou? Sou uma mulher negra, professora, sonhadora, brinco com palavras e tenho convicção de que não pertenço ao mundo do sexo frágil. Sou igual a tantas mulheres que acordam cedo, trabalham, estudam e crêem que podemos conquistar muito mais.

Suerlange Ferraz

sábado, 4 de março de 2017

Quem é de casa, chega e vai direto para a cozinha.

Foto: Cozinha lindíssima e aconchegante de Cristiane Campos


Eu sei o quão íntima sou de alguém, a partir do momento em que sou convidada a adentrar em sua cozinha. Confesso que fico imensamente feliz ao conhecer esse espaço da casa de um colega ou amigo.

É na cozinha que a conversa flui. Neste lugar, os contos e as recordações se tornam marcantes. É ao redor da mesa que saboreamos o que nos é ofertado, além da companhia de uma ou muitas pessoas queridas. No mesmo espaço, a minha mãe acompanha a "Ave Maria" ou reza do terço transmitida por uma rádio.

Da janela da minha cozinha, posso ver as jabutis brincando em meio aos pingos da chuva, a vida florescendo através das árvores frutíferas e aproveito o tempo para dengar meus cachorros.

Na zona rural é raro encontrar uma cozinha que não tenha fogão a lenha. Ao calor das brasas, famílias relatam os fatos e fardos do dia enquanto tomam um café quentinho e se reúnem ao redor da mesa.

É na cozinha que a família se junta para dividir a refeição e um pouco da vida. É no último cômodo da casa que a mãe tempera a comida com doses de afeto.

Na cozinha, os amigos chegam sem cerimônia. Um chá, um café, uma sopa, bolos, biscoitos, cuscuz, assados, bebidas e um monte de sonhos; discussões, desabafos, comunhão de ideias sobre a mesa. "Nada de notícia ruim por aqui", dizia a mãe de uma amiga que não permite negatividade sobre sua cozinha. Ela está certa! Segundo crença de uma tribo africana, o alimento é sagrado e nenhuma palavra negativa pode pairar onde ele estiver. Neste espaço sagrado, só quem possui boas energias deve pisar.

É na cozinha de tanta gente que eu sou feliz. É na minha cozinha que recebo tanta gente que já não posso chamar de conhecidos, pois já são de casa. Todos estes elementos juntos alegram o ambiente e enchem meu lar de harmonia.

Que as cozinhas possam ser um dos melhores locais de encontro. Que neste lugar, a felicidade supere as angústias; que nunca faltem discussões sadias e boas gargalhadas.

Que pelas cozinhas que passei as mesas continuem fartas, e a bonança se expanda para o lar de todos. Sei que enquanto escrevo, algum ser humano agoniza por causa da fome. É muito triste saber que muitos desejam ter um pedaço de pão, dignidade, um lar e uma mesa cheia, mas, infelizmente, a exclusão não permite, e o egoísmo de muitos não deixa uma bolacha chegar à boca de uma criança.

Pelas cozinhas que andei, gratidão aos donos. Por cada cheiro, cores dos objetos, formato da mesa, alegria do anfitrião, presença dos animais de estimação e tantos outros elementos. A minha imaginação agradece.