Neste tempo de caos é necessário florescer. Pouco importa
se floresça em forma de rosa ou mandacaru.
Nos dias escassos de chuva, por muitas vezes, o que umedece
o chão são as lágrimas de tristeza. Quão triste tenho ficado com a onda de
manifestações a favor de tudo que já dilacerou a humanidade.
Ainda me custa a entender o que leva as pessoas a defenderem
o retorno de uma ditadura militar, exaltar corruptos, cultuar neonazistas,
acreditar com fidelidade que o machismo não mata, que o preconceito é algo
banal de quem gosta de pregar o vitimismo, e que as cotas são defendidas por
pessoas que são intelectualmente inferiores aos pardos e brancos. E quando
alguém tenta desconstruir esses pensamentos, recebem o rótulo de feminista vulgar,
defensor de partidos políticos ou alguém que desejar fazer lavagem cerebral em
seus alunos e tantos outros adjetivos.
Nando Reis tem razão, quando diz que o mundo anda ao
contrário e ninguém reparou. Não que eu pense que a humanidade deva comungar
dos mesmos pensamentos que eu, mas pela forma nojenta como os homens têm
vivido. Pensar diferente é liberdade, pregar ódio é crueldade.
Florescer em meio ao abismo que os dias nos apresentam
exige raízes consistentes e sabedoria para saber lidar com o ódio que vomitam
sobre nós a todo instante. Lutar com unhas, dentes, livros, conhecimentos, discursos,
ovos, tomates ( apesar de achar um desperdício jogar alimentos em políticos, ou
melhor, corruptos engravatados)
Sou professora de História, tenho tentado ao máximo não
absorver a negatividade oriunda de alguns educandos. Como dói ver uma geração
que se deixa ser influenciada por figuras tão boçais. Pegam uma informação
sensacionalista e pregam como verdade absoluta. Jovens que não aprenderam a
fazer reflexões sadias e esquecem de pensar no que é bom para toda uma coletividade.
Ainda me alegro quando vejo que a geração ainda gera frutos que analisam,
criticam, debatem, leem e me faz acreditar que nem tudo está arruinado neste
país.
Talvez eu não saberei explicar aos meus alunos, daqui a
alguns anos, o que ocorreu nos últimos dois anos, pois tudo muda o tempo todo.
Também não sei se existirá a disciplina de História, porque para os governantes
é desnecessário conhecer a história de uma nação, e pessoas questionadoras são
consideradas um carma.
Em meio à tempestade que estagnou sob nossas cabeças, a
apatia que rouba a coragem de prosseguir, o medo no que ainda está por vir,
milhares de motivos para temer – eu sigo! A passos curtos em alguns momentos, e
em outros, na velocidade da luz. Têm dias que o desânimo me captura e a
positividade desaparece, e são nesses momentos que eu me lembro do quão é
necessário resistir aos padrões e as mordaças que desejam colocar naqueles que
se indignam contra a miséria social e os valores deturpados que o povo
brasileiro internaliza apenas para satisfazer conveniências.
Não tenho jeito de rosa, tenho aptidão para ser um
mandacaru. Sugo da mãe terra o essencial para sobreviver,tenho espinhos, e
quando pensam que minhas forças estão sucumbindo, eu floresço. Florescer a cada
manhã, mesmo que a água que me regue seja as salgadas lágrimas de angústia.
Florescer em meio à multidão e caminhar com uma canção na mente e a convicção
de que a travessia deixará cicatrizes, mas é melhor conviver com a marca de uma
luta do que com as marcas de uma vida pacífica e sem enredo.
Suerlange Ferraz
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