domingo, 22 de junho de 2014

“Cabelo, cabeleira, cabelaça “


















Um belo dia resolvi mudar! Resolvi fugir do barulho atordoante do secador ou do medo de uma gota d’água estragar o cabelo alisado. Mudei! Dei adeus ao cabelo liso e deixei as raízes falarem mais alto, ou melhor, se manifestarem. Os cachinhos assumiram o lugar dos fios alisados, o domado, agora é algo que tem vida própria. Tem dias que ele está comportado, já em outros, é uma explosão e alegria e rebeldia.
Infelizmente nem todas as mudanças são bem-vindas! Alguns comentários do tipo “cabelo de vassoura, cabelo inchado”...” ou expressões “ Credo! Por que você fez isso com seu cabelo?”, “ O seu cabelo escovado era muito mais bonito” e fora outros adjetivos atribuídos ao meu novo visual.
Até certo ponto eu achei graça, mas depois de uma breve reflexão pude analisar a forma e a proporção que o preconceito aparece. Infelizmente, o preconceito é difundido no seio familiar e vai se expandindo. É normal uma criança de sete anos rir do cabelo ou da cor da pele de um coleguinha? Creio que não, mas se ele rir e um adulto acha graça, a criança sempre repetirá e consequentemente no futuro poderá repetir o mesmo ato, mas de uma forma mais grosseira e muito mais preconceituosa. Alguns males podem e devem ser cortados na infância. As diferenças estão espalhadas por todos os cantos do universo, ninguém precisa aceitar, mas deve respeitar. E o respeito começa dentro de casa e é ensinado pelos primeiros educadores, os pais.
Adotar uma cabeleira não é tarefa fácil, exige personalidade e autoestima. Sempre poderá aparecer um “engraçadinho” para perguntar se você não conhece alisamento, progressiva, escova marroquina, egípcia, russa ... Eu conheço várias técnicas, mas hoje e com essa vasta cabeleira que eu quero ficar.
E se eu passar pela rua e alguém rir da minha cabelaça? Não tem problema. A identidade é adquirida com formação, conhecimento, amor próprio e, sobretudo respeito. Mudei! Eu também queria que o mundo mudasse. Que as pessoas se respeitassem e que o amor próprio e o amor ao próximo fossem multiplicados. Desejo de que o respeito fosse multiplicado em cada esquina. Desejo que a diversidade fosse respeitada a partir do lar de cada um.
E o vento da madrugada passa e brinca com os meus cachos. Sensação de liberdade. Sensação de que não é preciso seguir padrões para ser feliz.
A sociedade “democrática” continua e continuará ditando regras para a beleza e para a felicidade, mas a “felicidade é só questão de ser”. Então seja feliz a sua maneira. Sou negra, dona de uma vasta cabeleira e sou feliz. Os adjetivos dolorosos sempre existirão, mas cada um e responsável pela mudança do seu universo. Não se abata com palavras negativas. Assuma o visual que te dê prazer e vá ser feliz. Solte seus cachos porque “ em terra de chapinha, quem tem cacho é rainha”


Suerlange Ferraz