sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Partida!



Acordei com o vento e o céu meio escurecido da última sexta do mês de outubro.

Acordei e fiquei pensando nessa tal de saudade e da falta que faz alguém que se foi.

Recordei da partida dos meus avós. Lembro-me do momento que pela porta passavam e dei o último tchau.

Quando os amados se vão, pedaços de afeto ficam pelos lugares em que viveram. A saudade ocupa cada centímetro da casa e o olhos viram cachoeira.

Quando os vizinhos partem, a rua fica maior e em cada calçada, uma boa lembrança do sorriso e dos cumprimentos. A vizinhança entristece quando um membro saí de cena.

A rua já não tem a mesma alegria; no São João, não terá aquela fogueira e aquele morador para alegrar a noite; será menos cumprimentos e delicadezas quando eu passar apressadamente sobre a calçada de um ser que partiu.

As estradas também nos tiram vizinhos. É aquela fatalidade que procuramos uma porção de explicação, ficamos paralisados e sofremos.

A saudade traz as mais diversas recordações. Deixa o coração doído porque é complicado lidar com as ausências. O pé de seriguela está florido e isso me fez lembrar da minha avó. Já não sinto tristeza por sua ida, a saudadezinha vem e me entrega recordações doces.

O cheiro do café, a chuva, a comida, a música, os espaços, cheiros, aqueles dizeres, o aconchego, olhares, fotos ... e aquela certeza de que os amados sempre estarão com ou dentro da gente. Na memória, um turbilhão de lembranças; no coração, o melhor daqueles que amamos e nos olhos, a falta em forma de lágrimas.

A partida ainda tem muito a nos ensinar.


Suerlange Ferraz

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Todo dia era dia de celebrar a infância!



Ainda ontem, escutava de uma amiga, que existe um idoso dentro de mim, que eu não penso como a maioria das pessoas da minha idade. Entre uma risada, tive que concordar com ela. Às vezes acho que essa geração tem desperdiçado uma parcela do tempo com coisas que não permitem uma alegria intensa ou não faça a vida ser realmente prazerosa.

As crianças já não exercem a função de planejar e construir seus brinquedos, as meninas deixaram para trás a arte de fazer comidinhas para suas bonecas ou fazer bonecos de farinha de trigo para serem fritos e servidos no lanche.

O quintal da casa de minha avó era enorme e um espaço ideal para as brincadeiras da tarde. Que maravilha era encontrar aquele monte de São Caetano pendurado na cerca. Em instantes, era fincados palitos de fósforo naqueles frutos e eles viravam cavalos.

Na roça em que vovô vivia, os milhos viravam bonecas. O "cabelo"do milho dava um charme ao brinquedo. Não pensem que eu era uma criança que não tinha brinquedos provindos da indústria, tinha alguns, mas preferia confeccionar os meus.

Brincar de amarelinha na escola ou na rua, boca de forno, horas e horas jogando stop, uma roda e lá estava alguém brincadeira com anel que passava de mão em mão.

E o que falar daqueles carrinhos de rolemam que os meninos usavam para descer a calçada que ficava ao lado do Banco do Brasil, hoje ficam alguns banquinhos e o ponto de táxi. Dava um medo de ser atropelada por um carrinho daqueles.

No domingo era dia do céu ficar enfeitado de pipas. No quintal da minha casa, eu conseguia enxergar o colorido das pipas que cruzavam o horizonte.

Na hora do intervalo, na escola, meninos escolhiam um espaço para jogar futebol e pião. Brincadeiras de cunho exclusivo para os garotos. Sempre questionei o porquê das meninas não se misturarem aos seus colegas para disputarem uma partida de gude.

As árvores serviam como esconderijo e, sempre que a tristeza me visitava, era lá que eu me refugiava. Quantas vezes fui encontrada deitada sobre a sombra que o abacateiro, goiabeira ou limoeiro faziam. Eu imaginava tantas coisas que de tanto sonhar, adormecia em qualquer lugarzinho.

Durante a infância, colecionei ioiôs, o brinquedo era maravilhoso. Aproveitava a ida para a escola para poder brincar e ficava irritada quando meu barbante quebrava.

Um talo de mamona, uma vasilha com água e sabão em pó, uma balançada ... pronto! Estava pronta a diversão da tarde. Pulmão aquecido para soprar bolas de sabão. Era cada bolona que passeava pelo ar. Quando vejo um brinquedo que vem com a bolas de sabão, tão sem gracinha, lamento pelas crianças, que desconhecem a felicidade de produzir sua fonte de diversão

Escapei de viver minha infância num período em que o celular parece ser mais essencial do que a presença de alguém. Tive a sorte de ser criança que ria com os desenhos mais fantástico que já assisti, tive a oportunidade de fazer meus brinquedos e de ser uma aventureira pelos quintais e ruas em que eu passei.

Suerlange Ferraz