quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Saudando a doçura do dia de São Cosme e São Damião!



Estava indo para a aula de inglês, no último sábado, e pelo caminho encontrei algumas crianças com muitas balas em suas mãos que voltavam de uma reza antecipada de Cosme e Damião. Era possível ouvir o barulho dos fogos que os ‘‘donos das rezas” soltam para celebrar o momento.
A festa dos erês é uma das mais doces recordações de minha vida. Conheci a tradição do Caruru através de dona Ziza, minha querida vizinha que todos os anos, reunia crianças cuja idade não poderia ser superior aos sete anos. Vestia-as com roupas semelhante a de Cosme e Damião e colocava-as sentadas sobre um tapete onde era servido o almoço e depois a sobremesa, que era um saquinho com guloseimas. Os adultos eram servidos após o término da ladainha.
As crianças comiam ao som de mulheres que entoavam as suas orações, eu nunca entendi os que elas cantavam. Lembro-me que durante anos, todo dia 27 de setembro, a movimentação de pessoas era intensa em frente a minha casa. Todos aguardavam a distribuição do caruru que vinha juntamente com arroz, frango, peixe, salada e vatapá.
Em uma rua do bairro Primavera, seu Amanso, também realizava deliciosos carurus. Durante anos, eu e alguns primos, cumpríamos o ritual de deslocarmos das nossas residências em direção à reza. Era um momento de muitas orações e cantorias. As pessoas formavam uma fila imensa para almoçarem.
Dona Ziza e Seu Amanso não habitam mais este plano espiritual. Depois que eles partiram fiquei órfã de carurus ou “carirus”. Todo ano, acordo com pensamentos positivos de que alguém me convidará para degustar um delicioso almoço em alguma reza espalhada pela cidade, mas nem sempre a vibe positiva atrai comida.
Muitas pessoas substituíram os almoços por distribuição de bolo, arroz doce, canjica e doces. Em algumas rezas, os devotos delimitam a quantidade de crianças e a idade para se sentarem a mesa (que na verdade, são tapetes distribuídos pela sala ou cozinha). Em outros lugares, não existe limite estipulado para idade e quantidade de crianças que participarão do evento. Mãe Bibiu, reúne mais de trezentas crianças em sua mesa, com idades variadas, e ainda distribui almoço para centenas de convidados, realizando uma festa bonita. Outro caruru famoso é o que acontece na fazenda Buraco do Boi (tradição famosa em Poções que ainda não tive o prazer de conhecer).
Pelos bairros, a devoção será cumprida. Até o final do mês, escutarei muitos barulhos de fogos pela cidade, anunciando que a festa dos erês está acontecendo em algum lugarzinho de Poções. Verei muitas crianças felizes, assim como eu ficava, quando recebia pacotinhos recheados de doces ou quando o desejo era saciado com um prato bem lindo contendo arroz, vatapá e caruru; não faço questão que coloquem peixe ou frango em meu prato.
Vários devotos estarão cumprido suas promessas, entregando doces, e caso você não comungue dessa tradição, não menospreze quem tem o trabalho e prazer de sair de seus lares, doarem um pouco de si para professar sua crença e não está fazendo nada de mal a ninguém. Se você não gosta do simbolismo que existe, não tem problema, mas respeite. Quanta gente medíocre costuma demonizar a fé do outro.
E muito, hei de escutar “Cosme e Damião eu vou plantar chuchu, para todo ano fazer caruru pra tu”. O assunto de hoje me deu fome e aproveito para salientar que eu não recuso convite para rezas, sejam elas com bolos ou almoços. Caso algum leitor queira me convidar para saborear um caruru, é só mandar o endereço e horário que eu apareço (risos).
Que o mês de setembro chegue ao fim com a doçura dessa tradição e alegre igual aos guris que se contentam com algo tão simples como doces, pipocas e salgadinho. Viva, São Cosme e São Damião! Viva a alegria e ternura dos erês!

Suerlange Ferraz

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Prece


Aos religiosos, respeitem-se!
Aos políticos, façam com que o povo volte a acreditar em políticos honestos. Apareçam sempre na casa dos habitantes da cidade em que vocês atuam. Sentem-se nas cadeiras simples ou sofás luxuosos, tomem cafezinhos ralos, conversem, elogiem as pessoas e lutem por melhorias para todos.
Aos eleitores, valorizem-se!
Aos ricos, solidarizem-se com os pobres!
Aos pobres, não permitam que os sonhos morram e façam o possível para que a luta por uma vida melhor, não fique só no sonho.
Ao educador, mesmo com a difícil missão de formar cidadãos, seja um professor comprometido consigo e com a educação dos seus alunos.
Aos alunos, levem a sério a educação e se tornem seres críticos.
Aos intelectuais, sejam dignos desse título.
Aos racistas, preconceituosos, machistas, homofóbicos ... já tem ódio demais no mundo e vocês colaboram para que a vivência na Terra não seja tão legal.
Aos golpistas, a opressão não calará a população.
A vida, sabedoria!
Ao coração, tranquilidade e um punhado de bons sentimentos.
Aos vizinhos que gostam de um pagodão ou uma sofrência no domingão, por favor, lembrem-se que ao lado da sua casa tem alguém que não é obrigado a compartilhar seus gostos musicais e necessita dormir. Obrigada!
A inspiração, visite-me com mais frequência .
Aos companheiros de discussão, agradecida por fazer de pequenos encontros, momentos de troca de aprendizado e enriquecimento pessoal. Como é bom encontrar gente que tenha bom conteúdo para dialogar.
A cada pôr do sol, um momento para contemplar a delícia que é viver.
Aos adversários políticos, respeito!
As primaveras ou verões, mais motivos para encantar-me!
Que as ideologias sobrevivam após os golpes de cada dia.
Aos leitores,gratidão por reservar um pouco do seu tempo para ler minhas postagens. Há dias que acho que escrevo um monte de coisa boba e que não interessa a ninguém; em outras ocasiões, o meu lado professora de história é gritante e tem dias que faço das palavras uma releitura de quem eu sou e daquilo que eu acredito. Escrever é terapêutico, engrandece a alma e aproxima as pessoas. É uma forma de rever conceitos, amadurecer e permitir que alguém tome posse dos seus escritos através das recordações.

Suerlange Ferraz