quinta-feira, 18 de maio de 2017

O frio anuncia a Festa do Divino









Dizem por aí que as baixas temperaturas deixam as pessoas mais nostálgicas e eu comungo com essa ideia. Quando o frio de maio chega a memória fica aguçada, porque é tempo de festa. É o período da fé e religiosidade serem exaltadas pelos devotos de uma cidadezinha aconchegante, Poções. É o tempo da festa, é o momento do Divino Espírito Santo.
E lá se vão quase cento e quarenta anos de festejos. Quantas coisas mudaram por aqui! De um pequeno grupo que se reunia para festejar o homenageado, a um gigantesco aglomerado de pessoas que se encontram anualmente com o mesmo propósito dos primeiros fieis que percorreram esta terra.
O tempo passa, mas o que é sagrado fica eternizado nas pessoas, e quantas lembranças vem a tona nesse período. Recordações dos leilões, da quermesse, do som mecânico, dos pavilhões, dos encontros dos blocos e da turma do jegue, da roda gigante, que durante anos era uma super atração. Época de recordar as alegrias vividas com a diversão no parque ou dos sustos provocados pelo misterioso mundo da Monga.
. Quantos irão recordar daqueles que amavam os festejos e ansiosamente contavam os dias para reviverem o sentimento tão forte de mais uma festa e que quando a bandeira passar, já não estarão mais em suas portas ou janelas, porque foram contemplar a festa em outro plano. Para quem fica o ritual continua, e as memórias dos entes queridos são reavivadas.
Dos olhos emaranhados às mãos estendidas para tocar em uma bandeira, do cheiro que exala das rosas na procissão, ou nas janelas,ao gosto da maçã do amor nas barraquinhas, do cortejo com o mastro a missa de pentecostes, dos bons encontros pela cidade aos shows na praça. Assim é a festa do Divino, cheia de encantos e encontros que serão eternizados em nossa memória.
Mesmo que a fé esteja adormecida, os fogos da alvorada vêm para relembrar que um dos tempos mais encantadores do ano começou. É tempo de renovar as energias, de acreditar fielmente que dias melhores virão e repetir constantemente uma partezinha do hino ao Divino; “A bandeira segue em frente atrás de melhores dias”. A bandeira e cada poçoense segue em frente, buscando amanheceres felizes e que a justiça, de alguma forma, sobreviva.
É assim, os devotos por onde passam, abrem moradas. O terno de reis do Divino é prova disso. E aquele estandarte que eu conheci ainda muito pequetita, com tio Mituca, é o mesmo que ainda me causa arrepios quando junto as minhas mãos em preces. De todas as emoções, de tantas fotografias e de muitos encontros. Guardo a gratidão por vivenciar, estudar e amar a festa que me possibilitou conhecer um pouco da fé de tanta gente querida. Seu Abdon, um dos reiseiros do grupo de seu Homero e que já não se faz morada neste plano, me dizia que ele era devoto por gratidão e obrigação. Também dona Maria, descalça, com uns dois girassóis em sua mão, agradecia com canto e lágrima a cura de uma doença que acometia um de seus filhos. E assim surgem devotos que silenciosamente, ou não, rendem graças pelos milagres diários.
Mais um período festivo e porções de emoções a vista. Abram as portas, enfeitem as janelas, soltem fogos, deixem os sentimentos aflorarem, façam suas preces e alegrem-se, porque a majestosa festa vai começar –É tempo dele, Divino Espírito Santo.


 Su Ferraz