sábado, 12 de abril de 2014


Valores da contemporaneidade


Analisando algumas postagens na rede social, ou melhor, a polêmica envolvendo um professor de filosofia que elaborou uma avaliação usando uma música da cantora Walesca Popozuda, pude perceber que muitos condenavam a atitude do professor em chamar a cantora de pensadora contemporânea, já outros, defendiam o professor, e uma das justificativas para a defesa era que se Chico Buarque ou outro cantor da MPB cantasse “beijinho no ombro” não apareceriam críticas e eles seriam rotulados de grandes pensadores.
Segundo o professor, ele só queria causar polêmica e conseguiu alcançar a sua meta. Muitos debates foram travados em torno da questão da avaliação e da nova pensadora que surgiu depois de gravar funks que usam gírias, falam e exploram a sensualidade feminina. Considerar a funkeira como uma grande pensadora foi um “tapa na cara de muitos”, mas outros não viram nada demais na afirmação do professor.
Vivemos em uma sociedade que fica indignada com alguns rótulos, mas não se indigna com a precariedade em que o país se encontra. Um dia desses, elaborei uma avaliação e pedi para os alunos falarem um pouco dos problemas encontrados no setor educacional. E eles souberam explicar? Não! Eles não conseguiram refletir sobre a realidade em que vivem. Mas se eu pedisse para falar sobre o “lepo lepo” ou o “funk da ostentação”, a maioria saberia falar. Uma grande parcela dos estudantes fazem questão de “ostentar” o título de aluno, mas vai para escola conversar, se entreter com o celular e tantos vão para “medir” forças com o professor. E o professor o que faz? Tenta expor o assunto em meio a inúmeras vozes, gritos, gargalhadas, piadinhas e desinteresse. E chega o final da unidade, o aluno “leva bomba” e a culpa é de quem? Com certeza, muitos alunos irão responsabilizar o tal do professor pelo desempenho no decorrer da unidade. Mas a culpa é do “mestre”? Não! A culpa é de um sistema que existe e foi elaborado com a finalidade de lotar salas, aprovar em massa e destruir as cordas vocais de um professor. E por que poucos discutem a realidade da educação? Por que é mais interessante falar sobre a nova filosofa do que discutir a realidade do sistema educacional? A educação é um dos principais pilares da sociedade brasileira e precisa de socorro.
Eu não quero aprovar um aluno porque o sistema me pressiona, quero aprová-lo porque ele apresenta um bom desempenho. Quero acreditar nos governantes, que eles reflitam sobre o papel de um educador. Ei, governantes! Invistam no futuro do país.
E a saúde? Quantos morrem diariamente por falta de cuidados médicos? Diariamente é mostrado em jornais filas gingantescas pelos hospitais, mulheres parindo em calçadas ou dentro de ambulâncias, pessoas sendo desumanizados pelos corredores de hospitais. E até parece que ninguém vê o que está acontecendo. Acredito que os nossos amados representantes não sabem o que é a realidade de um hospital público, até porque quando adoecem, procuram os melhores tratamentos, que são financiados com o dinheiro do “povão”.
Atenção! Daqui a alguns meses, os tais representantes do povo vão aparecer em sua cidade para pedir um humilde voto. O tal do representante vai dar uns tapinhas em seu ombro, abraçar-lhes, passar a mão na cabeça de uma criança carente... e depois ele ganhará a sua confiança, o seu voto e a eleição, e as promessas ficarão e o descaso continua. E lá vai mais um rumo Brasília para tão bem nos representar.

Mas acredito que a saúde e a educação não são importantes para o país. O importante mesmo é sediar uma Copa do Mundo, reprimir os protestos e calar a boca dos que incomodam o país. Importante é construir vários campos ou arenas de futebol e se esquecerem de tantos que não tem o que comer no dia de hoje. Ah! Mas como disse um sábio ex-jogador de futebol: “não se faz copa com hospitais”, mas se fazem muitos hospitais com o dinheiro gasto com a Copa. A Copa é um evento importante? Sim! O que é preciso analisar é que a Copa passará muito rápido, mas os problemas no país continuarão.
O grande pensador baiano Edson Gomes sabiamente diz que “As pessoas se trancam em suas casas
Pois não há segurança nas vias públicas/ A gente precisa de um super-homem
Que faça mudança imediata”. Não se pode mais andar tranquilamente pelas praças porque o medo e os bandidos estão por todos os lados. As pessoas vivem trancadas em suas casas, falta a liberdade de ir e vir. Falta segurança, faltam penas mais severas para os que causam transtorno à sociedade, faltam investimentos para que existam programas que visem a resgatar o valor do ser humano.
Faltam tantas coisas na amada mãe gentil, Brasil! Falta honestidade, caráter e decência dos políticos. Faltam investimentos no ser humano. Que cada pessoa não represente somente um voto, mas que represente um povo que sonha por dias melhores. Invistam naqueles que são os responsáveis por formar cidadãos - os professores. Invistam na saúde e salvem vidas! Invistam no Brasil e tirem milhas de pessoas da linha da miséria, Invistam nos jovens e teremos milhares de pensadores contemporâneos.
Mas enquanto a ostentação falar mais alto, a novela for o principal assunto do dia e o surgimento de celebridades instantâneas que se tornam grandes pensadores for o assunto mais importante do mês, a sociedade continuará a ficar esquecida e abandonada. Enquanto existirem pessoas que pensam de forma reduzida, a sociedade vai ficar a mercê de uma educação quantitativa, saúde precária, fragilidade na segurança e ascensão de celebridades instantâneas ao cargo de filósofos.
E como sabiamente diz o grande pensador e deputado Tiririca “pior do que tá, não fica!”. O meu medo é que o pensamento do sábio seja equivocado, afinal, em uma sociedade em que se corrompe valores, tudo é possível acontecer.

Suerlange Ferraz