segunda-feira, 19 de junho de 2017

Feira: colorido, multidão, cheiros e encontros




De madrugada, as barracas começam a ser montadas. As caixas são abertas e os melhores produtos são selecionados e expostos para atrair os consumidores. Aos poucos, o trânsito humano começa, e as pessoas são seduzidas pela qualidade, bons preços e a boa e eficaz propaganda.
As cores intensas da couve, o perfume das rosas na barraca de dona Ana, as bananas sem carbureto que seu Jaime vende,o vermelho intenso da “talhada” da melancia que enche os olhos e faz a boca salivar. E o que dizer do requeijão que brilha? Por um instante,esqueço as gordurinhas do mal que existem nele e me rendo à tentação de saboreá-lo.Cada barraca uma peculiaridade. Cada comerciante uma figura marcante nas manhãs de sábado.
As pessoas dividem espaços com as barracas, carrinhos de picolé, pamonhas, mingaus e lonas estendidas no caminho. Andar pela feira é dividir pequenos espaços com uma porção de gente, tentando se esquivar a todo momento das sacolas, embornais e se proteger dos pisões.
            Os moradores da zona rural acordam com o canto do galo. Alguns, caminham um bocadinho para conseguir um transporte e realizar suas compras, outros, vem vender seus produtos. O homem do campo costuma relatar a falta que a chuva faz no “sertão”, ou contam, com muita satisfação, que em sua região choveu até bastante e deu para juntar água no tanque.
É na feira que encontramos os “nutricionistas” que montam umas receitas em fração de segundos. A “rúcula boa para a visão”, afirma seu Antônio. Remédio para matar verme, eliminar o cansaço, o pano branco, fadiga, osteoporose... Você encontra na garrafada do elixir Leão do Norte, anunciava um senhor baixo, que aparentava ter uns setenta anos.
Dentro do mercadão, farinha, biscoitos, pubas fresquinhas, e o feijão ocupam cada metro quadrado. Açougues, restaurantes, barracas que vendem roupas utensílios, domésticos e especiarias complementam o Mercado Municipal de Poções. Ah! Incensos e material para banho é na barraca de seu Edson, e a poucos metros, encontra-se cestas, cofrinhos no formato de porco e botijão. Ainda é possível deparar com algum senhor comprando pedaço de fumo para fazer seus cigarrinhos.
Feira é contemplação do sagrado produzido pela mãe terra. É local de encontro dos meninos carregadores de compras e sonhos, dos meteorologistas e matemáticos, dos contadores de prosas, dos professores e dos alunos que vêm da zona rural e passam a manhã batalhando pelo sustento. As dificuldades não impedem as manifestações de generosidade e a todo momento somos agraciados com algumas bananas a mais, ou uns dois ou três ovos caipira de presente.
Como é delicioso fazer comprar ao ar livre, tocar nos alimentos e cheirá-los também. Conversar um pouco com os feirantes amigos e andar a passos lentos ao som emitido pelas caixinhas de som que estão distribuídas pela feira. Ainda consigo achar graça das pessoas que comem um punhado de farinha ou experimentam vários biscoitos antes de adquirir o produto. Os mais idosos arrancam tirinhas de bacalhau para sentir a qualidade ao comer, o que acho muito estranho.
Impossível não lembrar as figuras que são rotuladas como os “invisíveis da sociedade”. São aquelas pessoas que juntam uma graninha durante a semana, vão à feira, encontram um bar aberto, bebem excessivamente e posteriormente ficam caídos em calçadas, alguns, machucados. A feira reflete a divisão tão cruel de renda. Enquanto muitos lotam seus carrinhos de compras, outros tantos esperam o término da feira para catar a sobra dos legumes e verduras.
A feira de tantas contradições. Lugar sagrado,porque tudo que envolve alimento possui uma sacralidade. Templo de alegria para quem faz boas vendas e para os que conseguiram encontrar o que desejavam, principalmente, se o precinho for camarada. Depois das compras feitas, o melhor a fazer é tomar um caldo de cana bem gelado, comer um pastelzinho, sentar em um banco e ficar a observar minuciosamente a grandiosidade daquele momento. 
Suerlange Ferraz

Um comentário:

  1. Tenho acompanhado seus textos, e cada dia mais fico impressionada com a sensibilidade colocada em cada um para tratar de assuntos tão naturais à nós poçoenses. Parabéns!!! O seu olhar tem despertado emoções que por muitas vezes deixamos esquecidas em meio a correria do dia a dia. Que o Senhor te abençoe e te conserve assim, despertando o que há de leve e sincero nos seus leitores.

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