De
madrugada, as barracas começam a ser montadas. As caixas são abertas e os
melhores produtos são selecionados e expostos para atrair os consumidores. Aos
poucos, o trânsito humano começa, e as pessoas são seduzidas pela qualidade,
bons preços e a boa e eficaz propaganda.
As
cores intensas da couve, o perfume das rosas na barraca de dona Ana, as bananas
sem carbureto que seu Jaime vende,o vermelho intenso da “talhada” da melancia
que enche os olhos e faz a boca salivar. E o que dizer do requeijão que brilha?
Por um instante,esqueço as gordurinhas do mal que existem nele e me rendo à
tentação de saboreá-lo.Cada barraca uma peculiaridade. Cada comerciante uma
figura marcante nas manhãs de sábado.
As
pessoas dividem espaços com as barracas, carrinhos de picolé, pamonhas, mingaus
e lonas estendidas no caminho. Andar pela feira é dividir pequenos espaços com
uma porção de gente, tentando se esquivar a todo momento das sacolas, embornais
e se proteger dos pisões.
Os moradores da zona rural acordam
com o canto do galo. Alguns, caminham um bocadinho para conseguir um transporte
e realizar suas compras, outros, vem vender seus produtos. O homem do campo
costuma relatar a falta que a chuva faz no “sertão”, ou contam, com muita
satisfação, que em sua região choveu até bastante e deu para juntar água no
tanque.
É
na feira que encontramos os “nutricionistas” que montam umas receitas em fração
de segundos. A “rúcula boa para a visão”, afirma seu Antônio. Remédio para
matar verme, eliminar o cansaço, o pano branco, fadiga, osteoporose... Você
encontra na garrafada do elixir Leão do Norte, anunciava um senhor baixo, que
aparentava ter uns setenta anos.
Dentro
do mercadão, farinha, biscoitos, pubas fresquinhas, e o feijão ocupam cada
metro quadrado. Açougues, restaurantes, barracas que vendem roupas utensílios,
domésticos e especiarias complementam o Mercado Municipal de Poções. Ah!
Incensos e material para banho é na barraca de seu Edson, e a poucos metros,
encontra-se cestas, cofrinhos no formato de porco e botijão. Ainda é possível
deparar com algum senhor comprando pedaço de fumo para fazer seus cigarrinhos.
Feira
é contemplação do sagrado produzido pela mãe terra. É local de encontro dos
meninos carregadores de compras e sonhos, dos meteorologistas e matemáticos,
dos contadores de prosas, dos professores e dos alunos que vêm da zona rural e
passam a manhã batalhando pelo sustento. As dificuldades não impedem as
manifestações de generosidade e a todo momento somos agraciados com algumas
bananas a mais, ou uns dois ou três ovos caipira de presente.
Como
é delicioso fazer comprar ao ar livre, tocar nos alimentos e cheirá-los também.
Conversar um pouco com os feirantes amigos e andar a passos lentos ao som
emitido pelas caixinhas de som que estão distribuídas pela feira. Ainda consigo
achar graça das pessoas que comem um punhado de farinha ou experimentam vários
biscoitos antes de adquirir o produto. Os mais idosos arrancam tirinhas de
bacalhau para sentir a qualidade ao comer, o que acho muito estranho.
Impossível
não lembrar as figuras que são rotuladas como os “invisíveis da sociedade”. São
aquelas pessoas que juntam uma graninha durante a semana, vão à feira,
encontram um bar aberto, bebem excessivamente e posteriormente
ficam caídos em calçadas, alguns, machucados. A feira reflete a divisão tão
cruel de renda. Enquanto muitos lotam seus carrinhos de compras, outros tantos
esperam o término da feira para catar a sobra dos legumes e verduras.
A
feira de tantas contradições. Lugar sagrado,porque tudo que envolve alimento
possui uma sacralidade. Templo de alegria para quem faz boas vendas e para os
que conseguiram encontrar o que desejavam, principalmente, se o precinho for
camarada. Depois das compras feitas, o melhor a fazer é tomar um caldo de cana
bem gelado, comer um pastelzinho, sentar em um banco e ficar a observar minuciosamente
a grandiosidade daquele momento.
Suerlange Ferraz
Tenho acompanhado seus textos, e cada dia mais fico impressionada com a sensibilidade colocada em cada um para tratar de assuntos tão naturais à nós poçoenses. Parabéns!!! O seu olhar tem despertado emoções que por muitas vezes deixamos esquecidas em meio a correria do dia a dia. Que o Senhor te abençoe e te conserve assim, despertando o que há de leve e sincero nos seus leitores.
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