segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O Hippie e o Feirante




Era uma tarde ensolarada de segunda-feira e eu passava apressadamente por uma praça, quando ouvi alguém me chamar. Olhei para trás e avistei alguns hippies e seus artesanatos. Fernando, o hippie que me chamou, disse para eu não temê-lo e olhar suas artes. Dizia que ainda não havia almoçado e que precisava vender algo para garantir um rango.
Pelo sotaque foi possível saber que o moço era carioca. Um cara de 21 anos, dos quais 5 provavelmente foram passados na estrada. Não uso brincos de penas e para sua sorte, e a minha, eu precisava comprar um presente para uma amiga. Digo minha sorte, porque considero de suma importância conhecer pessoas e dialogar com elas. Sinto uma enorme necessidade de estar em contato com gente e absorver um pouco do conhecimento de cada novo ser encontrado neste universo.
Fernando era bom de papo, com um sorrisão largo relatava as suas experiências pelas ruas do país. Perguntei se ele era feliz com a opção escolhida e me perguntou se eu o achava um fracassado e sorriu. Lógico que não o acho! Acredito que existem diversas formas de nos realizarmos.
O hippie comentou sobre uma frase tão patética que diz: "se tudo der errado, viro hippie" e com uma felicidade que era nítida em seu olhar, afirmou que ele não era um rapaz fracassado, pelo contrário, era um jovem realizado com sua escolha. Naquela tarde, Fernando me ensinou que eu ando buscando a felicidade em lugares muito distantes. Talvez eu não esteja valorizando os pequenos gestos ou momentos singelos.
Na mesma semana, fui à feira e quando estava retornando para casa, um feirante com algumas vagens de feijões parou em minha frente e perguntou se eu havia comprado feijão verde. Respondi que não queria. Ele disse que custava R$3,00 e “dibuiava” na hora. Resolvi mudar de ideia por causa do ótimo preço do produto e por achar interessante essa ideia de dibuiar na hora. Creio que o feirante deveria ter a mesma idade do hippie e ambos demonstravam estar felizes com o que fazia.
Fiquei encostada na barraca olhando a labuta daquele cara, que sorrindo dizia que levaria uns minutos para eu ter o meu feijão. Conversamos sobre o poder de transformação que a chuva possui e o valor exorbitante da banana da terra e da alface. Está difícil seguir as orientações médicas e manter uma alimentação saudável. Depois de alguns minutos, saí da barraca feliz e com o meu feijão verde.
Ao chegar em casa, fui refletir sobre esses bons encontros que a vida havia me proporcionado ao longo da semana. Talvez eu não veja mais os dois homens, mas o que eles me ensinaram em poucos minutos de prosa foi marcante.
Era necessário repensar sobre meu conceito de felicidade, procurar me desapegar de objetos que não acrescentam nada de significativo em mim. Ter um guarda roupa repleto de roupas não é sinônimo de felicidade. Andar constantemente maquiada não traz uma beleza que contagia alguém. Existem pessoas com uma beleza tão linda, não digo a física, mas aquela que é capaz de transmitir tranquilidade, é a beleza que brota da alma.
Virou rotina encontrar pessoas que acham que a felicidade é vestir-se com roupas caras, tomar banho com perfumes importados, mostrar ao mundo que está feliz postando dezenas de fotos em redes sociais ou fingir que tudo é lindo e perfeito para agradar e ser bem aceito em grupinhos. Não consigo acreditar que a felicidade faz morada em criaturas que vivem em prol das aparências.

Creio que o dinheiro não é capaz de fazer que alguém fique plenamente feliz, ele é necessário, mas não compra a felicidade completa de ninguém. A felicidade e a simplicidade são adjetivos que deveriam nos acompanhar em todos os momentos da vida. Deveríamos enxergar a necessidade de alguém e procurar amenizar a situação, mas raramente nos importamos com as angústias do próximo. Precisamos exercitar tudo aquilo de mais bonito que a religião pôde nos ensinar, porque se os religiosos se prenderem a julgamentos cruéis e virarem advogados de acusação nas redes sociais ou em qualquer outro lugar, lamento, mas eles precisam reavaliar a maneira de expressar sua fé.
Vamos nos despedir das nossas mesquinharias? Esvaziar nossos corpos de arrogância, preconceitos e deixar de lado o condenador que mora aí, dentro de você? Eu topo!
Desejo perfumar a alma a cada nascer do sol, não maquiar os meus sentimentos e crer que mesmo nos dias mais tempestivos preciso aprender, ou torna-me uma fênix, ressurgir e buscar minha felicidade naquilo que faz com que meu corpo flua e minha mente capte o essencial para ser feliz.
É necessário trocar os verbos, abandonar o ter, e saber ser. Respirar compaixão e distribuir solidariedade. É essencial saber ouvir e delicioso tirar proveito de uma conversa. Que os encontros com quem amamos sejam frequentes e numa roda de conversas, a simplicidade que emana dos reencontros seja traduzida em felicidade.
Eu sei que preciso passar por modificações. O feirante e o hippie, através daqueles sorrisos largos, brilho nos olhos e simplicidade na alma, me ensinaram que tenho que enxergar muito além do que os meus pequeninos olhos já puderam ver nestas décadas de existência.
Andar por aí, contemplar a infinidade de belezas naturais, entender que existe uma necessidade de se pensar no coletivo e jamais esquecer que não vivemos em um país das maravilhas, mas nem por isso podemos deixar de sonhar.


Suerlange Ferraz

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