terça-feira, 8 de setembro de 2015

A invisibilidade do ser humano


É sábado! Um corrre corre na feira, as pessoas procurando bons produtos e excelentes preços. A correria é tão grande, que por muitas vezes não conseguimos olhar atenciosamente quem está ao nosso redor.
Em uma das vielas que permite o acesso a feira, várias pessoas transitavam e mancha de sangue era uma marca em meio aos paralepipedos. O sangue saiu do rosto de um senhor que se encontrava sentado em meio a folhas seca, plásticos e sujeira. O que chamava a atenção é que ele parecia invisível para as pessoas que trafegavam por ali. Algumas pessoas devem ter imaginado que o senhor era um bêbado e por isto estaria naquela situação. Mas se realmente ele fosse um bêbado, não merecia compaixão? Por que pessoas que estão desprovidas de bens materiais estão ficando invisíveis perante a sociedade?
Vejo que a sensibilidade em olhar com compaixão é coisa rara. Tantos se dizem ser cristãos, mas não conseguem ter misericórdia de alguém que vive em situação lamentável. Ser caridoso não é jogar uma moedinha de R$0,10 centavos no chão para um andarilho “catar”. Ser caridoso vai além da esmola. É ter a sensibilidade de olhar o menos favorecido como um ser humano.
Vivo em uma cidade que a violência assusta a população. Os roubos de celulares tornou-se um medo visível, mas morte de tantos jovens de bairros periféricos já não assusta tanto. O celular vale mais que a vida. Vejo pessoas compartilhando coisas fúteis em redes sociais, ou compartilhando vídeos de adolescentes nuas, ou imagens horríveis de pessoas mortas. Falta respeito aos mortos e seus familiares, mas a moda e os atos de insensibilidade falam mais alto. Compartilhe amor, sorrisos, um oi, olhares, gentileza e respeito. É sempre bom se colocar no lugar do próximo.
Que os belos discursos possam ser colocados em prática. Não adianta pensar em mudar o sistema político, ecônomico ... se continuarmos com pensamentos pequenos e atitudes desumanas. Não estou escrevendo o texto por ser uma boa pessoa ou ter atitudes dignificantes, escrevo para que ao ler, eu possa lembrar que me incluo em uma sociedade que a cada dia é mais competitiva e desigual. Eu também preciso ter compaixão ao olhar o próximo. O próximo inclui os animais, a natureza ... e aqueles que não podem retribuir a um gesto de afeto. Pais, não ensinem os seus filhos que o importante é ser melhor em tudo, não somos nota dez em tudo. Pais, ensinem também valores que edifiquem o ser. Acho tão belo quando eu vejo uma criança dividindo um lanche com um coleguinha que esqueceu a merenda em casa. Também é bonito presenciar crianças respeitando os menos favorecidos. Usando aquela velha frase “as crianças são o futuro da nação” então que possamos ensiná-las valores para que a compaixão e sensibilidade acompanhe o futuro da nação. Ensinem que a comida é sagrada, que um não faz bem, que dói o coração do coleguinha quando ele sofre rejeição.
Ao andar na feira, além das cores intensas das frutas, verduras, picolés e outras coisas, olhe a beleza de uma irmão que está próximo a você e talvez um olhar ou um oi seu possa ser a diferença naquele instante. O mundo precisa de delicadeza e afeto.
Naquela manhã ensolarada de um sábado do mês de setembro, eu procurei fazer algo, mas não obtive êxito. Aquele senhor que estava caído na viela, deve ter seguido seu rumo sendo mais um ser humano que tornou-se invisível à sociedade.
Suerlange Ferraz

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