segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Para que tanto ódio?


Da cozinha, olho minhas cachorrinhas brigarem, foi uma coisa rápida e em instantes elas já estão de boa. Uma deitou sobre a barriga da outra e dormiram. Diante daquela cena, fiquei pensando no ódio que os homens carregam e fazem questão de exibir nas redes sociais. Juram vingança por pequenos desentendimentos, destilam veneno gratuitamente, torcem pela morte de alguém ou matam pobres animais indefesos.
Nos últimos dias, muito tenho lido sobre este sentimento que adoece a sociedade, pois precisava compreender o que levou algumas pessoas a comemorarem a morte de uma mulher, apenas porque odeiam o viúvo e o partido no qual ele milita. Observar tamanha manifestação de odiosidade nas redes sociais foi estranho e me causou medo. Bateu uma tristeza por saber que minhas cachorras, que são consideradas animais irracionais, brigam e se perdoam, e os tidos “seres racionais”, ao invés de amor e perdão, estão tentando ensinar a conjugar o verbo odiar em várias esferas.
A sociedade está doente? Creio que sim. Vejo crianças que retribuem a ofensa do colega com tapas e ainda dizem “meu pai disse que é assim, se bateu ou xingou, eu tenho que fazer a mesma coisa”. Um cachorro que está deitado em frente a um comércio é surrado e tem uma de suas patinhas quebradas; um ex aluno foi espancado porque é homossexual e um dos vizinhos acha que o jovem é doente e merecia uma surra, e assim foi feito. O rapaz teve três dentes quebrados por causa da intolerância; Ana foi espancada pelo marido e algumas vizinhas cochichavam que ela mereceu porque quando o esposo chegou em casa, a mulher estava conversando com o leiteiro e vestida com um “toco” de roupa e isso não é coisa de mulher “direita”. Dona Dil comenta com a colega “Deus que me perdoe, mas quando alguém me diz que mora na periferia, misericórdia, morro de medo, praticamente todos são bandidos ou parentes de um”. Tanta gente é contra pena de morte, porque é adepto de uma religião, mas vai para o Facebook curtir ou postar frases fazendo apologia a tal prática. Os exemplos de hipocrisia e estupidez são tantos, que eu poderia passar horas relatando fatos observados no cotidiano.
Estamos vivendo uma era em que muitos têm discursos lindos e práticas horríveis, outros, são abomináveis tanto na teoria quanto na prática. Nossa sociedade passa por um processo de inversão de valores. Sinto que pessoas com bons sentimentos e atitudes nobres estão ficando escassas, ou preferem se omitir por medo das maldades. Os diálogos saudáveis e produtivos são raros, o bullying fere a alma e leva milhares ao suicídio, a religião virou um comércio para os muitos “profetas” do momento.
Tem sido difícil crer em uma humanidade melhor. É triste saber que fotos de pessoas doentes viram memes, e que apesar do avanço tecnocientífico pelo qual passa a humanidade, ainda nos deparamos com pessoas que avaliam alguém pela cor. Os “poderosos” viraram as costas para os miseráveis que vivem nas vielas das cidades. Um monte de desonestos que se tornaram políticos roubaram a esperança de muita gente em um futuro melhor nessa área. Parece que ser corrupto é um lindo adjetivo, e tantos dizem por aí “se eu fosse político roubaria igual a eles”. Poxa! O mundo ficou tão estranho e têm pessoas se esforçando para que ele piore.
Uma sociedade doente enfraquece os sonhos. O ódio adoece as pessoas, a falta de respeito torna-se guerra, a intolerância mata, a falta de boas discussões deixa o intelecto pobre, e quando privamos nosso corpo de bons sentimentos, ele morre aos poucos a cada amanhecer. Não deveríamos defender os bandidos que nos roubam todos os dias, devemos lutar por tantos direitos que estão nos tirando na calada da madrugada.
Para que tanto ódio? Essa doença tão mortal. Ando nostálgica e sinto saudades da compaixão, fé, solidariedade e acima de tudo, o respeito.

suerlange Ferraz

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