Dizem
por aí que as baixas temperaturas deixam as pessoas mais nostálgicas e eu
comungo com essa ideia. Quando o frio de maio chega a memória fica aguçada,
porque é tempo de festa. É o período da fé e religiosidade serem exaltadas
pelos devotos de uma cidadezinha aconchegante, Poções. É o tempo da
festa, é o momento do Divino Espírito Santo.
E
lá se vão quase cento e quarenta anos de festejos. Quantas coisas mudaram por
aqui! De um pequeno grupo que se reunia para festejar o homenageado, a um
gigantesco aglomerado de pessoas que se encontram anualmente com o mesmo
propósito dos primeiros fieis que percorreram esta terra.
O
tempo passa, mas o que é sagrado fica eternizado nas pessoas, e quantas
lembranças vem a tona nesse período. Recordações dos leilões, da quermesse, do
som mecânico, dos pavilhões, dos encontros dos blocos e da turma do jegue, da
roda gigante, que durante anos era uma super atração. Época de recordar as
alegrias vividas com a diversão no parque ou dos sustos provocados pelo
misterioso mundo da Monga.
.
Quantos irão recordar daqueles que amavam os festejos e ansiosamente contavam
os dias para reviverem o sentimento tão forte de mais uma festa e que quando a
bandeira passar, já não estarão mais em suas portas ou janelas, porque foram
contemplar a festa em outro plano. Para quem fica o ritual continua, e as
memórias dos entes queridos são reavivadas.
Dos
olhos emaranhados às mãos estendidas para tocar em uma bandeira, do cheiro que
exala das rosas na procissão, ou nas janelas,ao gosto da maçã do amor nas
barraquinhas, do cortejo com o mastro a missa de pentecostes, dos bons
encontros pela cidade aos shows na praça. Assim é a festa do Divino, cheia de
encantos e encontros que serão eternizados em nossa memória.
Mesmo
que a fé esteja adormecida, os fogos da alvorada vêm para relembrar que um dos
tempos mais encantadores do ano começou. É tempo de renovar as energias, de
acreditar fielmente que dias melhores virão e repetir constantemente uma
partezinha do hino ao Divino; “A bandeira segue em frente atrás de melhores
dias”. A bandeira e cada poçoense segue em frente, buscando amanheceres felizes
e que a justiça, de alguma forma, sobreviva.
É
assim, os devotos por onde passam, abrem moradas. O terno de reis do Divino é
prova disso. E aquele estandarte que eu conheci ainda muito pequetita, com tio
Mituca, é o mesmo que ainda me causa arrepios quando junto as minhas mãos em
preces. De todas as emoções, de tantas fotografias e de muitos encontros. Guardo
a gratidão por vivenciar, estudar e amar a festa que me possibilitou conhecer
um pouco da fé de tanta gente querida. Seu Abdon, um dos reiseiros do grupo de
seu Homero e que já não se faz morada neste plano, me dizia que ele era devoto por
gratidão e obrigação. Também dona Maria, descalça, com
uns dois girassóis em sua mão, agradecia com canto e lágrima a cura de uma
doença que acometia um de seus filhos. E assim surgem devotos que
silenciosamente, ou não, rendem graças pelos milagres diários.
Mais
um período festivo e porções de emoções a vista. Abram as portas, enfeitem as
janelas, soltem fogos, deixem os sentimentos aflorarem, façam suas preces e
alegrem-se, porque a majestosa festa vai começar –É tempo dele, Divino Espírito
Santo.
Su Ferraz