Herdei
o gosto pelo futebol do meu pai. Durante muitos anos fui encarregada de anotar
os jogos do final de semana para que ele pudesse fazer seus bolões.
Meu
pai também foi o responsável por me apresentar o Heraldão, estádio do time do
Poções. Creio que fui em apenas quatro ou cinco jogos e foi no período glorioso
do time. Recordo da minha felicidade em saber que eu ia ao “Campo de futebol”.
A fila, a passagem pela bilheteria, os passos contados até chegar à
arquibancada e a procura por um lugar privilegiado.
O
entusiasmo e barulho de Tonhão do sambão e CIA animando a arquibancada, algumas
bandeiras sendo sacudidas, alguns torcedores próximos ao alambrado e ambulantes
circulando com seus isopores. O pipoqueiro ficava parado, próximo a entrada do
estádio. Eu passava o jogo inteiro comendo amendoim ou pipoca. Os amendoins
vinham dentro de sacos transparentes e as pipocas eram doces e coloridas. Ah!
Tinha algodão doce também. Dispensava milho cozido.
Meu
pai sentava ao lado de seus amigos. A cada lance, era tecido um comentário, e
na hora do gol, meu Deus, uma explosão de felicidade. Pai me explicava o
significado de alguns lances e mesmo quando não entendia, fingia estar por
dentro de tudo que ele falava para alegrá-lo. Gandula, carrinho, juiz ladrão,
olha a falta, palavrões, ele merece expulsão, que cara perna de pau... Eram as
palavras que eu mais escutava no decorrer do jogo.
Na
minha ultima ida ao estádio houve briga,e depois daquele dia, nunca mais
voltei. Mas acompanhava a transmissão pelo rádio, sozinha ou com meu pai.
Acredito que poucas meninas tiveram o privilégio de acompanhar seus pais a uma
partida de futebol a vinte anos atrás. Amava comentar com meus colegas de como
era maravilhoso assistir o “Poções” jogar, e alguns me olhavam com aquela
expressão que diz “ela está mentindo”.
O
orgulho da nossa cidade, o “Poções”, transformou-se em boas recordações. O time
saiu de cena durante anos e faz pouco tempo que vem tentando retornar ao
cenário estadual. Time querido, renasça e galgue voos esplêndidos! Tua torcida
te espera, as tardes de domingo sentem sua falta e os adversários anseiam pelo
seu retorno.
Suerlange Ferraz